O lançamento da primeira pedra para a construção de um verdadeiro Teatro em Leiria tem lugar em 1878, no Campo D. Luís I (actual Largo de Goa, Damão e Diu), situado entre o antigo Convento de Sant`Ana e o jardim público Luís de Camões.
E eis pela primeira vez um espaço fechado digno de merecer o nome de TEATRO, o Teatro Dª. Maria Pia. Mas, teatro só de nome, pois o que o público pedia era cinema.
A difícil situação financeira do teatro e as carências físicas do próprio edifício, começam a por em causa a continuidade cultural do mesmo.
Até que, o surgimento de uma nova administração, através de ‘um punhado de homens válidos’*, salva a situação. Entretanto, com o advento da Segunda Guerra Mundial, começa a germinar a ideia da construção de um novo teatro. Tanto mais que a Inspecção dos Espectáculos, alegando falta de segurança, encerra várias vezes o D. Maria Pia.
Em Janeiro de 1958, tem lugar o último espectáculo no velho D.ª Maria Pia. A projecção de filmes passa a realizar-se num barracão, adquirido no Montijo, por 100 contos. Instalando ao fundo do jardim, perto das escadas de acesso ao Marachão, o barracão de cinema, é inaugurado em 12 de Janeiro de 1958, com a exibição do filme ‘A leste do paraíso’, tendo James Dean como protagonista.
O início
Mas eis que, em 1963, José Lúcio da Silva entra em cena e manifesta o desejo de construir um teatro para a cidade. A obra arranca numa antiga propriedade de vinha da família Marques da Cruz, segundo projecto dos Arquitectos Carlos M. Ramos e José Bruschy tornando-se numa inequívoca marca dos tempos modernistas em Portugal.
O lançamento da primeira pedra tem lugar no dia 29 de Julho de 1964. A obra fica concluída em cerca de 18 meses, sendo o teatro inaugurado na noite de 15 de Janeiro de 1966, um sábado, com a presença do almirante Américo Thomaz.
No dia da inauguração duas peças subiram ao palco do Teatro José Lúcio da Silva. Na primeira parte pôde-se assistir à peça ‘Monólogo do Vaqueiro’ (ou ‘Auto da Visitação’), de Gil Vicente, interpretado por João Motta e na segunda parte os espectadores puderam deliciar-se com a peça ‘Os Velhos’, uma comédia em 3 actos, original de D. João da Câmara.
O primeiro espectáculo de cinema nesta sala da cidade deu-se no dia 16, domingo, com o filme ‘Lord Jim’, que tinha estreado recentemente em Lisboa, criticado como ‘a mais extraordinária e grandiosa aventura até hoje filmada’. Sobreviveu a tempos de censura e já foram muitos milhares de pessoas que nele assistiram a grandes espectáculos.
O preçário da época apresentava valores bem diferentes dos actuais. Com efeito, para os camarotes (4entradas) os bilhetes custavam 65$00, para a tribuna 16$00, para a plateia variavam entre os 13 e os 11$00, enquanto que para o balcão eram de 9 e 7$50.
Desde a sua inauguração até à actualidade a sua actividade tem decorrido de forma ininterrupta, com maior incidência na projecção cinematográfica.
Curiosidades à parte, o ranking dos filmes mais vistos no Teatro José Lúcio da Silva é liderado por Titanic que, em 1998, esteve quatro semanas em cartaz e teve 28.659 espectadores. Em 2º lugar está o filme Jurassic Park, de 1993, em cartaz 3 semanas, com 17.839 espectadores. O terceiro lugar do pódio é ocupado por Sozinho em casa 2: Perdido em Nova Iorque, de 1992, em cartaz também 3 semanas e que foi visto por 12.171 espectadores.
Esta sala sofreu, ao longo dos anos, várias remodelações, tais como a implementação do sistema de som digital, as novas cadeiras, a nova alcatifa, a remodelação do palco e por último, a aquisição de uma máquina nova para a projecção, permitindo um melhor recorte de imagem. Sem dúvida, uma das melhores salas do País. – Afirmou o administrador da Solercine – Equipamentos cinematográficos e audiovisuais.
O Teatro José Lúcio da Silva é também membro fundador do m|i|mo – museu da imagem em movimento, museu que em 2004 entrou para a Rede Portuguesa de Museu e que tem no seu espólio um fundo dedicado ao Teatro JLS.
O Teatro José Lúcio da Silva tornou-se ao longo dos anos numa sala de espectáculos «monumental» com capacidade para 763 lugares apresentando excelentes características cénicas que proporcionam um conforto visual actualmente raro nas salas de projecção justificando assim a sua posição de relevo na cultura da Cidade.
Em Setembro de 2005, o Teatro José Lúcio da Silva encerrou as suas portas para dar lugar às obras de vulto para modernização do espaço e equipamentos.
* «Do Teatro D.ª Maria Pia ao Teatro José Lúcio da Silva – Um percurso de 90 anos.» – Sertório Ferreira